Em novembro de 2008, o cineasta Ruy Guerra escreveu um texto que acompanhou as fotos do ensaio da Cláudia Ohana para a Revista Playboy.
Guerra, que já foi casado com Cláudia Ohana, dirigiu-a em vários longa-metragens, como Erendira, Kuarup e A Fábula da Bela Palomera.
Confiram na íntegra, esse belo texto poético!
Ohana nas alturas
Por Ruy Guerra
Ohana, no Japão, é flor – dizem.
Aqui é mais, muito mais do que o que vocês miram, gulosos.
Ohana é alegria e sentido do humor.
Coragem de se expor, buscar, insistir, ser quem é, ser outra, todas, apalhaçar a dor. Decisões e contradecisões à velocidade da luz, gangorra e buscapé, gargalhada fácil, prantos de verão. Indomável nos seus desígnios maiores. A vida fria, vivida em linha reta.
Ohana, quem diria!, é flor de terras secas, áridas.
Nas narinas frementes, ofegantes, sertão batido de espinhos. Nos olhos de mel, melancólicos mandacarus abraçando o silêncio, planícies à deriva. O que é isso? Só ela sabe, a gente apenas vê o vazio.
O horizonte lhe pertence.
Ohana, menina e mulher, combinação fatal em qualquer quadrante, está aí.
Ferozmente mulher, volúpia e perversidade, sedução pura. Bruscamente criança, olhar perdido, desprotegida, comovedora.
Teia de aranha.
Nós, moscas.
Ohana – se ainda flor – incômodo paradoxo.
Pó e pântano, vitória-régia e Maria-sem-vergonha. Cruza de Salomé e Maria Bonita, véu e agreste, sua pele – estejam atentos! – desmente a raiva do sol, namora a brisa da madrugada, atiça o desejo do olhar. Seus olhos túmidos, línguas de fogo, vorazes. O corpo, veloz, macio em nossas pupilas, arranca do pó a luxúria; do orvalho, o grito; do galope, arranca o êxtase. No sorriso curvo, capaz de todos os adjetivos, o apelo do sórdido e do sublime.
Mulher de muitos talheres, ela escolhe o garfo, o prato e a faca. A espora e o bridão.
Ohana - não mais flor - apenas Cláudia.
Corpo inteiro, em carne viva, sombra e luz: mulher, atriz, mãe, avó.
Estrela e abismo. Pluma, ponta de faca, borboleta, cascavel.
Nua.
Aproveitem pecadores, voyeurs, leitores escorregadios, lambuzemo-nos todos, concupiscentes, nestas páginas envenenadas.
Atenção: o prazer, sacro ou pagão, não se desfruta impunemente. O preço pode ser alto.
Qual?
A resposta em Freud... e na Bíblia.
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